domingo, 31 de outubro de 2010

sem alegria, mais feliz


Na postagem que dei o nome de caçador, minha filha disse que já não aguentava ler o que eu escrevia, pois era sempre triste.
Na verdade não é triste o que escrevo, são apenas meus sentimentos.
Comecei a postar neste blog, o que estava dentro de mim depois que meu filho morreu.
Antes eu vivia o sonho de toda mulher. Ser feliz e ter o orgulho de ter moldado meu caminho.
Ter uma familia composta de mãe e filhos saudavéis, lindos e realizados.
No entanto um obstáculo para o qual eu não estava preparada surgiu, e eu não pude evitar o amargo desfecho .
Para as mães que perderam seus filhos, deve ter alguma coerência os meus escritos. Não os considero deprimentes.
Descrevo um buraco no qual não sobra espaço para a alegria, mas isto não me torna uma pessoa infeliz.
Quando aconteceu, eu fiquei parada no tempo para encontrar um outro trajeto para seguir em frente, aprendi a dançar, dei a primeira festa de aniversário (quando completei 55 anos) mudei para um apartamento novo, arranjei um namorado que por sinal é muito lindo, e deixei o cabelo crescer. Fiz musculação, emagreci e fiquei mais bonita.
Porém a saudade do meu filho ficou cravada na minha alma. Na verdade eu não consigo colocar alegria no que escrevo, mas não ter alegria não é ser infeliz, é uma outra forma de viver. Vou tentar mudar a aparência dos meus escritos, descrever a ausência da alegria sem amargura, para que não seja confundida com infelicidade ou tristeza. Vou continuar a descrever meus momentos para que um dia minha filha possa ter um registro do que foi minha vida, sem a alegria de poder estar com minha familia completa. Quando somos jovens acreditamos que para a alegria estar presente em nossa vida, depende somente de nossas escolhas e por isso seguimos confiante, e isto é muito bom. Quero que ela seja esta pessoa que descreve a forma de usar a canga como se fosse um ritual para encontrar a felicidade. Gosto de ler o que a simoneta escreve, viajo pelos blogs e percebo o quanto é colorido os caminhos pelos quais as pessoas transitam. Imagens de saias flutuantes pessoas sorridentes, e lugares incriveis. Percebo seus sonhos e fico muito feliz de ter este mundo virtual a minha disposiçao, para entrar nele, e viver um pouco desta levesa colorida. Vou postar tudo que encontrar de cores, beleza e futilidades. Mas vou continuar a deixar que meus momentos sobrevivam junto com toda esta cor, e assim, quem sabe com esta nova aparência não seja confundida com amargura e infelicidade. Somos diferentes em estatura, cor, força e nergia, por isso embalamos nossas emoções de forma individualizada, as vezes sem o colorido tão essencial para que seja interessante.Vou usar a camuflagen da maquiagem que esconde nossas olheiras e as marcas que o tempo deixou. Pois um baton colorido sempre deixa nossa boca mais bonita e um pouco de beleza é sempre bom. Dê uma olhada na minha foto querida filha, e veja como sua mãe era talentosa para representar o papel da alegria. Esta foto foi tirada 5 meses depois que a alegria não fazia mais parte da minha vida.
Lamento muito, mas esta imagem vai ser sempre uma cena ensaiada para que você consiga me achar interessante. Eu amo você e só por isso vou representar para ter seu aplauso. beijos.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

CAÇADOR

Parece monotonia, uma espera sem fim. Mais o pior é não saber exatamente o que espero.
Enquanto o tempo vai passando fico assim como um caçador a espreita da presa.
Mas estou consciente que a presa sou eu. Então nao é monotomia é inércia, pois tenho conciência de que não vou conseguir evitar o confronto.
Meu tempo escoa, e eu percebo que já não me importo com o desconforto em que me encontro.
Espero ,no silêncio, tenho lembranças, não me fazen companhia, apenas estão ali registradas, como um albun de fotos que a gente guardou para ver como eramos jovens e cheio de esperança, Desliso pela casa como se ela fosse uma rampa lisa e longa. Não tenho bagagem, vou por um caminho que não sei onde vai chegar, mas sigo por ele pois não tenho, ou não sei qual é a outra opção para mudar.
Escuto um som, é o vento, ele desfaz meus cabelos, me faz tremer, não é de medo, não tenho medo, o pior já aconteceu.
Agora o vento traz um cheiro que me envolve perfumando minha pele. O cheiro me faz lembrar de minha mãe, cheiro de comida, aquela que ela fazia nos domingos, macarrão com caldinho de frango frito, enfeitado com ovos cozidos.
Agora o vento traz a chuva, molha meu rosto, me faz lembrar das lágrimas da minha mãe, da minha irmã.
Olho em minha volta, percebo que o tempo passou sem que eu percebece, que não foi só para mim, passou pra minha filha, para minha mãe, para minha irmã.
Agora vem o sol, a terra molhada traz um cheiro de capim, aquele cheiro que eu gostava de sentir quando estava na roça.
Percebo que estou sozinha, como uma presa escondida de seu caçador.
Em silêncio espero